Jornal Evangélico Luterano

Ano 2018 | número 820

Quinta-feira, 28 de Março de 2024

Porto Alegre / RS - 17:21

Unidade

Eu sou o SENHOR, teu Deus

Estamos sendo chamados e chamadas para falar sobre Política... e precisamos dialogar! As Comunidades precisam dialogar! Este comportamento é necessário para edificar vida em comum. Nas relações de diálogo, ‘as pessoas se libertam em comunhão’, segundo o Educador Paulo Freire. Política significa votar e ser votado. Mais do que isso: Política significa organizar a vida em sociedade. Tudo na vida passa pela Política. Sem Política, não há convívio justo em sociedade.

Lutero ‘reconhecia que Deus criou as pessoas para que se relacionassem de forma amistosa e pacífica. A Política também é um elemento constitutivo e garantidor da existência humana. Isto faz com que cada ser humano participe da Política, seja como cidadão ou como pessoa que desempenha cargo político’ (Texto- Base do Tema da IECLB para 2018).

No tempo de Jesus, havia muitos movimentos e partidos políticos. O mesmo aconteceu e acontece em toda a história humana. Nenhum deles obteve exclusividade de Jesus. Ele teve postura de autonomia em relação aos partidos e aos movimentos, mas não ficou alheio a tudo o que era importante na vida social do seu tempo. A sua dedicação às pessoas pobres, necessitadas e miseráveis estava sempre presente. Jesus pregou a justiça e, sobretudo, o amor. Também praticou, viveu Política. Quando alguma estrutura, cultura ou lei prendia ou escravizava, Jesus rompia com a ordem social. Curou em um sábado, o que era ilegal e, juridicamente, proibido. Acolheu e cuidou da saúde do Nazareno que era desprezado por todos (Mc 5.15ss).

Precisamos dialogar... Política significa votar e ser votado. Mais do que isso: Política significa organizar a vida em sociedade. Tudo na vida passa pela Política. Sem Política, não há convívio justo em sociedade.

No tempo de Jesus, para fazer Política bastava praticar religião de outra maneira. Muitas vezes, ele fez Política de oposição, quebrando paradigmas para cuidar, libertar e salvar as pessoas. Jesus deixou a política de igualdade, a justiça, o cuidado, o amor, a dignidade de todas as pessoas como critério de Juízo Final: Tive fome e destes-me de comer. Tive sede e destes-me de beber. Vestistes-me, fostes visitar-me, estando eu doente ou na cadeia (Mt 25.31ss).

Vamos dialogar sobre Política, justiça e paz. As três palavras não se separam facilmente. Fazem parte da mesma realidade. Estão entrelaçadas. Não se consegue edifi car Justiça sem fazer Política apropriada para isso e não há Paz sem que a Justiça seja o seu valor fundante.

Há várias formas de fazer Política. Entre nós, em Cuiabá/MT, por exemplo, Igrejas e o movimento social agiram, politicamente, ao erguer um monumento, na Praça da República. Inseriram, na paisagem da Praça, a Themis, que, na Mitologia Grega, simboliza a Justiça. Na Praça, o símbolo da Justiça é uma mulher alta, imponente, de salto alto. Tem sobre os joelhos um Cristo em estilo La Pietá. Usa sapato de salto alto. Aos seus pés, pessoas estão prostradas no chão. Um dos seus pés esmaga uma pobre figura desmaiada e indefesa, deitada no chão e que clama por justiça.

A escultura na Praça é imponente, de ares pomposos, que tem os olhos vendados. Na sua mão esquerda, ergue uma balança e, na direita, traz um punhal. Ao seu redor, há esculturas de seres tristes e miseráveis, esperando por justiça. Por falta de justiça, vivem situações de vulnerabilidade. Foram feitas vítimas da falta de políticas públicas justas. São pessoas idosas, negras, mulheres, indígenas, deficientes, empobrecidas, prisioneiras, adolescentes, jovens, crianças, gente violentada de diversas formas.

Deus está por trás do pão nosso de cada dia. Somos pessoas gratas ao nosso bom e querido Deus, participando da Política, promovendo a Justiça e vivendo a Paz em todas as relações humanas.

A Comunidade local participou da edificação do monumento de denúncia. Ainda hoje, 20 anos depois, ele pode ser visto em destaque. As pessoas que passam na Praça Central se posicionam. Tem gente a favor. Outros são contra. Os que são a favor se solidarizam com as vítimas. As que são contra falam que a figura destoa da boniteza da Praça. A Igreja está sendo perguntada sobre o seu aprendizado de leitura dos eventos humanos da cidade.

No Brasil, falta justiça. Isso produz empobrecimento, violência, fome, falta de trabalho, saúde, segurança e boa educação, além de medo e ansiedade. Esta realidade atinge muita gente. Na minha Comunidade, diariamente, encontro pessoas que vivem esta realidade. Como reagir?

O Pastor Dietrich Bonhoeffer, em seu livro Resistência e Submissão, explica que uma experiência de fundamental valor é aprender a olhar os grandes eventos da história do mundo a partir de baixo, da perspectiva dos excluídos, dos que estão sob suspeita, dos maltratados, dos destituídos de poder, dos oprimidos e dos escarnecidos, em suma, dos sofredores.

Ainda segundo o Pastor Bonhoeffer, temos que olhar as pessoas por aquilo que elas sofrem. Nesta compreensão, Bonhoeffer diz que a única relação fecunda com as pessoas – especialmente com as fracas – é o amor, isto é, a vontade de ter comunhão com elas. Ser solidário com elas significa entrar na dimensão das suas dores.

Por que a Igreja se preocupa com pessoas assim? É a ausência de justiça que leva as pessoas a situações reais de miserabilidade. O nosso Deus, o Deus da Comunidade ama a justiça. Justiça é um dos assuntos muito mencionados na Bíblia. A palavra aparece centenas de vezes. Ela se refere tanto ao relacionamento de Deus e dos seres humanos, como entre os próprios seres humanos. O nosso Deus é Deus da justiça (Is 30.18). Ele faz justiça aos afl itos, necessitados e sobrecarregados. O efeito da justiça é a paz (Is 32.17).

Jesus diz que são felizes as pessoas que têm fome e sede de justiça (Mt 5.6). O louvor a Deus deve ser traduzido em práticas de promoção do direito e da justiça, por amor, na sociedade (Am 5.24). Adora a Deus... e continua na prática da justiça (Ap 22.9b e 11b). Quando Jesus encontrou as pessoas ansiosas devido às incertezas da vida, umas poucas querendo tudo para si e outras andando sem saídas, ele ensinou a buscar o governo de Deus e a sua justiça (Mt 6.33).

Na Bíblia, justiça é muito diferente que atos do Judiciário. O Judiciário apenas julga e pune conforme a lei prescreve. A preocupação do Judiciário não é fazer justiça social. O Poder Judiciário cuida do poder e da manutenção da ordem, conforme as leis que os legisladores estabelecem, mas a justiça sobre a qual falamos é outra coisa. Justiça é igualdade. A justiça da fé, por sua vez, significa salvação plena, mas também se refere à justiça social. Esta é construção ética e política com base na igualdade de direitos e na solidariedade social. Em termos de desenvolvimento humano, a justiça social é o cruzamento entre a economia e a vida social.

A justiça social parte do reconhecimento que todos os indivíduos de uma sociedade têm direitos e deveres iguais em todos os aspectos da vida social. Isso quer dizer que todos os direitos básicos, como saúde, educação, justiça, trabalho e manifestação cultural, devem ser realidade concreta para todas as pessoas, sem exceção. A desigualdade social é o principal problema que as ações de justiça social buscam solucionar.

A Comunidade, por causa da sua fé, tem o compromisso político de participar, propor e construir mudanças necessárias para que possa haver justiça na sociedade. As pessoas cristãs vivem o Sacerdócio Geral. Fazem isso no seu trabalho, na vizinhança, nos seus grupos de amizade, na sua família, na Comunidade, em qualquer tempo e espaço.

A Igreja, por sua vez, contribui com a implantação da democracia participativa, com a sua compreensão de Comunidade como corpo e participativa na vivência do Sacerdócio Geral. Fundamental é o seu envolvimento na elaboração de políticas públicas justas, políticas que melhorem a vida na sociedade toda.

A Igreja prega o Reino de Deus, isto é, o Governo de Deus. Trata-se de um governo justo. Crendo nele, a Igreja se envolve nas questões de governo no mundo, na sociedade, no Estado. A IECLB tem muita experiência na política eleitoral. Ainda no tempo em que, no Brasil, havia Monarquia e não se queria falar em política de eleições, as Comunidades já escolhiam, democraticamente, as suas lideranças na Igreja e na escola.

A história das Comunidades é significativa neste sentido. Temos muito para contribuir na vida pública, na política, votando, sendo votado e monitorando as pessoas eleitas para que prestem contas do mandato que o povo lhe confiou – temporariamente.

O monumento na Praça, em Cuiabá, é um importante instrumento de monitoramento dos políticos e das políticas públicas. A refl exão do Pastor Bonhoeffer é muito boa para avaliar: Há vítimas e onde estão? As campanhas de solidariedade da Comunidade são expressão de comunhão? O nosso amor e a nossa solidariedade promovem comunhão e libertação?

Na Igreja, aprendemos de Martim Lutero, desde o Culto Infantil, que Deus está por trás do pão nosso de cada dia. Somos pessoas gratas ao nosso bom e querido Deus, participando da Política, promovendo Justiça e vivendo a Paz em todas as relações humanas.

P. Me. Teobaldo Witter, Professor e Assessor Teológico de Movimento Social

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